Essa desconexão é perpetuada por muitos ambientalistas cujo foco inicial direciona a atenção da mídia e informa o discurso público. No Canadá, isso significa que a mudança climática é discutida como um problema de areias petrolíferas, oleodutos, perfuração offshore, expedição, Alberta e empresas gananciosas. Optamos por apontar o espelho a montante, mas esse foco resulta em reformas significativas ou contribui para um efeito de distanciamento e resulta na complacência do mercado? Embora essa possa não ser uma perspectiva popular entre os ativistas, vale a pena contemplar o que pode acontecer se refletirmos o espelho a jusante para engajar a demanda do consumidor.
Para esse fim, os governos devem aprovar uma legislação que exija a divulgação de mudanças climáticas e poluição do ar - “etiquetas de aviso” - para bombas de gás. Esses rótulos seriam semelhantes aos que vemos nas embalagens de tabaco, embora não necessariamente como gráficos. É uma ideia que ajuda a fechar a lacuna experiencial entre o uso de combustíveis fósseis e seu impacto, a fim de criar um maior ímpeto social para lidar com as mudanças climáticas.
Mas por que avisos para bombas de gasolina? Aqui estão oito argumentos principais para seu uso:
Primeiro, emissões reais: Uma análise do ciclo de vida útil das rodas revela que aproximadamente 80% das emissões de gases de efeito estufa vêm do uso final; as emissões da extração, processamento e transporte de combustível são pálidas em comparação às emissões da combustão final. Além disso, a única razão pela qual toda essa infraestrutura upstream continua a existir é porque existe um mercado para o produto que ele entrega. Podemos jogar o jogo “nós contra eles”, mas até que estejamos dispostos a reconhecer que do outro lado dessa broca há alguém segurando uma bomba, sempre haverá pressão para trazer petróleo ao mercado.
Segundo, a inércia do status quo: O ato de bombear gás é um comportamento habitual e automático que é normalizado há gerações. Os rótulos perturbam essa experiência do consumidor. Mercados complacentes e desconectados não geram mudanças; um pouco de desconforto com o status quo é uma coisa boa. Isso impulsiona a mudança de comportamento individual e estimula uma maior demanda por reformas que, por sua vez, acelera a entrega de soluções por parte de governos e empresas.
Terceiro, tendência atual do momento: Os psicólogos observam que tendemos a preferir interesses pequenos e próximos no tempo, em relação àqueles significativos, mas com mais experiência no futuro. Isso é conhecido como “desconto hiperbólico” ou “viés do momento atual” e é uma das razões pelas quais deixamos de agir sobre as mudanças climáticas. Os rótulos de aviso neutralizam esse viés, conectando a causa com efeito para criar feedback e dar ao problema maior saliência no dia-a-dia.
Em quarto lugar, Difusão de responsabilidadeOs psicólogos sociais observam que, quando a responsabilidade é compartilhada entre muitos, é menos provável que ajamos. É o paradoxo de "todos são responsáveis, para que ninguém se sinta responsável". Com as mudanças climáticas, nossas contribuições individuais são pequenas, mas, coletivamente, nossas ações alteram a química do nosso planeta. Os rótulos resolvem isso tomando um problema de origem difusa e fazendo com que um indivíduo se sinta mais conectado a ele.
Em quinto lugar, O meio é a mensagem: Consumimos informações sobre mudanças climáticas por meio de mídias como jornais, internet, televisão, rádio e cinema. Mas essas mídias, em virtude de sua forma, apresentam o problema como distante ou separado e são consumidas de maneira passiva. Por outro lado, com a proposta de rotulagem, o meio - a bomba de gasolina - é a mensagem. Envolve o usuário de uma maneira que os transita de observador passivo para participante ativo, o que é um precursor da mudança.
Sexto, comunicação de externalidades: Os impostos sobre o carbono e os regimes de cap-and-trade buscam transmitir ao mercado o "verdadeiro custo" dos combustíveis fósseis. As etiquetas de aviso são simplesmente uma maneira qualitativa de comunicar externalidades ao mercado: o que o preço procura transmitir em uma linguagem quantitativa (isto é, dólares e centavos), as etiquetas se comunicam em uma linguagem qualitativa (isto é, imagem e texto). Essa abordagem qualitativa é particularmente importante, pois os economistas comportamentais observam que os mecanismos de precificação às vezes resultam em licenciamento moral e na continuação do comportamento indesejado.
Sétimo, divulgação de risco: Jornalistas investigativos têm relatado que muitos no setor de petróleo entendem os riscos de seus produtos, mas enganam o público por não divulgar esses riscos ou por atrapalhar o debate em torno da ciência. Que remédio mais adequado do que uma divulgação de risco exigida pelo governo?
Por último, mas não menos importante, custo: De acordo com um censo de varejo de petróleo, existem perto dos postos de gasolina 12,000 apenas no Canadá. Se você presumir que cada posto de gasolina possui cerca de bombas 8 a 12, você obtém aproximadamente bombas de gás 120,000 em todo o país. Os adesivos são incrivelmente baratos para imprimir. Para alguma perspectiva, considere que a instalação de painéis solares em uma casa pode custar cerca de US $ 35,000 CAD. Essa soma cobriria facilmente um adesivo para cada bomba de gasolina no Canadá.
E o Canadá não é um caso único; avisos de bomba de gás poderiam ser implementados pelos estados membros da União Européia. A idéia recebeu aplausos empolgantes durante uma sessão em novembro passado na COP23 e representa uma maneira tangível de os países da UE cumprirem o Artigo 12 do Acordo de Paris, que exige medidas para melhorar a "educação sobre as mudanças climáticas" e a "conscientização do público".
Tudo o que o mundo precisa agora é de um governo com a coragem de liderar o caminho.
Robert Shirkey é advogado, fundador da organização canadense de mudanças climáticas sem fins lucrativos Nosso Horizonte, falante TEDxe EYL40 Young Leader. Livro dele, A banalidade do petróleo, será publicado nesta primavera.