Saúde
O comércio ilícito de cigarros aumenta na França e na Holanda, gerando alarme sobre falhas políticas

Um novo relatório da consultoria global KPMG revelou um aumento acentuado no consumo ilícito de cigarros em toda a União Europeia, com a França e a Holanda emergindo como epicentros do aumento.
De acordo com o estudo KPMG de 2024, os fumantes na União Europeia consumiram 38.9 bilhões de cigarros ilícitos em 2024, um aumento de 10.8% em relação a 2023.
Esse é o nível mais alto registrado desde 2015. Esse número representa 9.2% do consumo total de cigarros, com governos perdendo até € 14.9 bilhões em receitas fiscais em um momento em que muitos países enfrentam intensas pressões econômicas e mercados negros em ascensão. Particularmente preocupantes são a França e a Holanda, onde o consumo não regulamentado disparou.

Somente a França foi responsável por 18.7 bilhões de cigarros ilícitos em 2024, o que representa impressionantes 37.6% do seu consumo total de tabaco, tornando-se o maior mercado ilícito da Europa.
Os Países Baixos experimentaram o aumento mais acentuado, com o consumo ilícito dobrando para 17.9% do total nacional — um aumento de 10.2 pontos percentuais em relação ao ano anterior. A Bélgica, embora não sofra aumentos na mesma escala, continua altamente vulnerável devido à sua localização geográfica estratégica, atuando como um centro de contrabando transfronteiriço entre jurisdições de baixa e alta tributação.
Em contraste, países que se opõem firmemente à tributação elevada, como Itália e Romênia, registraram taxas de consumo ilícito relativamente baixas, de 2% e 6%, respectivamente. A Grécia também teve uma queda significativa no consumo ilícito de cigarros em 2024, para 17.5% — a maior queda registrada no país em uma década.
Um alerta para os formuladores de políticas
O aumento do consumo ilícito de tabaco não é apenas um problema de saúde pública, mas também uma ameaça significativa à economia e à segurança. A KPMG estima que € 19.4 bilhões em receitas fiscais foram perdidos em toda a Europa em 2024 devido ao mercado negro. Esses fundos poderiam ter apoiado sistemas de saúde, aplicação da lei e programas sociais, particularmente cruciais em um momento em que o continente enfrenta crescente instabilidade geopolítica.
De acordo com as Christos HarpantidisSegundo o Vice-Presidente Sênior de Relações Exteriores da PMI, “o comércio ilícito de tabaco é uma ameaça crescente e multifacetada para a Europa. Ele prejudica a saúde pública, levando os consumidores a optar por produtos não regulamentados e de qualidade inferior, alimenta o crime organizado e priva os governos de receitas essenciais. Em 2024, 38.9 bilhões de cigarros ilícitos foram consumidos na UE – quase um em cada 10 cigarros consumidos na UE era ilícito, de acordo com o relatório de 2024 da KPMG sobre o consumo ilícito de cigarros na Europa.”
"O consumo ilícito de cigarros na UE foi impulsionado principalmente pela França e pelos Países Baixos, ambos países com tributação excessiva e altamente vulneráveis ao fenômeno do comércio ilícito. Os Países Baixos registraram o aumento mais acentuado, com perdas fiscais estimadas triplicando para quase € 900 milhões. A França continua sendo o maior mercado ilícito, com 18.7 bilhões de cigarros ilícitos consumidos", afirmou.
O fenómeno crescente em quase todos os Estados-Membros da UE foi também confirmado pela Europol no seu (2025 relatório) sobre a Ameaça e Avaliação do Crime Grave e Organizado, onde entre os principais fatores que impulsionam o comércio ilícito de tabaco na Europa foram listados “impostos e taxas de consumo elevadas e crescentes”.
Por outro lado, países como Grécia, Bulgária e Itália demonstraram que uma regulamentação equilibrada e baseada em evidências, além de uma tributação previsível, podem reverter essa tendência. A Grécia, por exemplo, alcançou a maior queda no consumo ilícito de cigarros na UE em 2024, graças a uma abordagem coordenada que combina políticas baseadas em evidências, aplicação rigorosa da lei e colaboração público-privada no combate ao comércio ilícito. Fora da UE, a Ucrânia obteve uma queda de 29% nos volumes ilícitos, demonstrando que uma tributação previsível e uma aplicação rigorosa da lei podem trazer resultados em circunstâncias adversas.
“A Europa está perdendo valor por meio de políticas que simplesmente não funcionam. O comércio ilícito de tabaco representa uma ameaça crescente à economia, à saúde pública e à segurança da UE. A UE pode continuar em um caminho que, inadvertidamente, alimenta o comércio ilícito ou adotar uma estratégia mais inteligente, baseada em dados, que proteja os consumidores, fortaleça as finanças públicas e apoie a inovação e o crescimento”, acrescentou.
Fatores: Impostos excessivos e lacunas na aplicação da lei
O estudo da KPMG de 2024, produzido anualmente e encomendado pela Philip Morris International (PMI), sugere que impostos excessivos e políticas de controle do tabaco excessivamente restritivas são os principais facilitadores do mercado ilícito. A PMI argumenta que aumentos repentinos de impostos e regulamentações complexas proporcionam terreno fértil para sindicatos do crime organizado, que exploram a demanda dos consumidores por alternativas mais baratas.
Enquanto os defensores da saúde pública argumentam que impostos mais altos reduzem as taxas de tabagismo, a PMI insiste que aumentos de impostos exorbitantes e imprevisíveis criam um vácuo rapidamente preenchido por redes criminosas que distribuem produtos falsificados não tributados e potencialmente perigosos.
Inovação criminal em ascensão
As operações modernas de contrabando tornaram-se mais ágeis e tecnológicas. As gangues agora utilizam drones, utilizam ferrovias e companhias aéreas de baixo custo para microtransporte e até anunciam em canais criptografados de mídia social. À medida que a produção se aproxima dos mercados finais, a detecção se torna mais difícil.
David Fraser, da KPMG, comentou: “Esta é a primeira vez que vemos um consumo ilícito de cigarros na casa dos dois dígitos em toda a Europa — 10% do consumo total. Se não for controlada, esta crise continuará a corroer os arcabouços fiscais e regulatórios da Europa.”
Bélgica: Uma encruzilhada crítica
Embora os números da Bélgica sejam menos alarmantes do que os da França ou da Holanda, seu papel como país de trânsito a torna um campo de batalha fundamental na luta contra o comércio ilícito. Redes criminosas utilizam a posição central da Bélgica na UE para movimentar mercadorias rapidamente, aproveitando os diferentes regimes tributários nacionais e a coordenação limitada da fiscalização.

O estudo da KPMG também menciona exemplos positivos: Bulgária, Grécia, Itália e Portugal, bem como a Ucrânia, que não é membro da UE, fizeram progressos significativos na redução do mercado ilícito de tabaco. Por exemplo, na Grécia, em 2024, o consumo ilícito de cigarros diminuiu 6.2%. Esta é a maior queda em uma década. Segundo especialistas, isso se deveu a regimes tributários previsíveis e ao forte apoio às agências policiais locais.
A opinião dos especialistas
Repórter UE Pedimos a opinião de dois dos maiores especialistas globais em saúde pública e prevenção. Veja o que eles têm a dizer:
Dr. Constantin Farsalinos, Pesquisador, Universidade de Patras e Universidade da Ática Ocidental, Grécia.
“Do ponto de vista da saúde pública, uma tributação significativa e consistente sobre produtos de tabaco é uma das ferramentas mais eficazes para reduzir o consumo geral e prevenir a iniciação. No entanto, uma abordagem equilibrada é necessária para evitar atividades criminosas e o estabelecimento de um mercado ilícito, que poderia ter o efeito exatamente oposto: aumentar a acessibilidade e o preço dos cigarros de tabaco, anulando efetivamente esta importante medida”, afirmou.
Para a saúde pública, o objetivo é claro: precisamos eliminar o tabagismo urgentemente. Nesse sentido, os esforços de controle do tabaco devem incluir, mas não se limitar a, um esquema de tributação cuidadosamente planejado, porém significativo, e esforços intensificados para eliminar o comércio ilícito não apenas de produtos falsificados, mas também de produtos legalmente fabricados e contrabandeados para sonegar impostos.
“Essas medidas devem ser complementadas com esforços redobrados para fornecer serviços eficazes de cessação do tabagismo e maior acessibilidade e preços acessíveis aos produtos de redução de danos do tabaco. Uma abordagem abrangente e multimodal é necessária para acabar com o tabagismo”, acrescentou.
Clive Bates, ex-diretor de Ação contra o Tabagismo e a Saúde (Reino Unido), que faz campanha para reduzir os danos causados pelo tabaco.
A única maneira de sustentar e justificar impostos altos sobre cigarros é ter acesso fácil e acessível a formas alternativas mais seguras de nicotina. Caso contrário, esses impostos serão brutalmente punitivos para quem continuar fumando. À medida que os impostos aumentam, os fumantes serão levados a buscar tabaco ilícito, mas seria muito melhor se eles fossem incentivados a migrar para alternativas mais baratas, seguras e legais. Acertar esses incentivos pode transformar a política tributária do tabaco de um fracasso iminente em um sucesso impressionante.
Conclusão
O aumento do consumo ilícito de cigarros na França, Holanda e Bélgica deve servir de alerta para as instituições da UE e os governos nacionais. Somente por meio de tributação equilibrada, regulamentação baseada em evidências e cooperação reforçada na aplicação da lei, a Europa poderá conter a onda de especulação criminosa e recuperar bilhões em receitas perdidas em um momento em que cada euro conta.
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