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Qatargate 2.0? Uma trama de direitos humanos favorece oligarca condenado, lançando sombras sobre parlamentares europeus

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Em um mundo onde a verdade às vezes parece mais estranha que a ficção, nos deparamos com outra saga da vida real que poderia ser descartada como excessivamente dramática se tivesse sido escrita por um romancista. O Parlamento Europeu está atolado em um novo vórtice de alegações sobre direitos humanos e corrupção, em meio a uma tempestade de fúria já em andamento inicialmente alimentada pelo chamado escândalo QatarGate da Europa no ano passado, escreve Luc Rodehefer.

Testemunhos apontam para pagamentos em dinheiro canalizados através de uma organização com sede em Bruxelas, co-estabelecida pelo ex-membro do Parlamento Europeu (MEP) Antonio Panzeri para manipular a votação no PE. As detenções e rusgas resultaram na apreensão de 1.5 milhões de euros em numerário e no confisco de computadores e telemóveis. Este escândalo iniciou discussões legais e estimulou demandas para revogar a imunidade diplomática dos envolvidos.

Um novo relatório de investigação aprofundado publicado em 29 de maio de 2023 – originalmente no Medium e posteriormente distribuído entre entusiastas anticorrupção no Reddit – parece sugerir que o escândalo continua a se desenrolar. Este relatório destaca Mukhtar Ablyazov, ex-ministro da energia do Cazaquistão, e a Open Dialogue Foundation (ODF), uma organização não governamental europeia. Entre a lista de eurodeputados mencionados no relatório estão também nomes anteriormente associados ao atual escândalo de corrupção QatarGate, como a ex-chefe da Subcomissão de Direitos Humanos do PE, Maria Arena, e o já citado Antonio Panzeri. Entre inúmeras descobertas convincentes sobre vários eurodeputados, o relatório alega que, desde 2019, Panzeri defende resoluções, publica relatórios e organiza eventos que favorecem Mukhtar Ablyazov e o ODF.

Além disso, o documento sugere que alguns MPEs podem ter emprestado a linguagem dos relatórios ODF em moções e resoluções do PE relativas ao Cazaquistão. Por exemplo, partes da linguagem usada no relatório da ODF de janeiro de 2022 foram supostamente incluídas em uma proposta de resolução sobre a situação no Cazaquistão poucos dias depois, que foi adotada pelo PE logo depois. Outro exemplo interessante é uma lista de 16 “presos políticos” fornecida no relatório ODF com uma inversão incomum de nomes e sobrenomes, que é então copiada com a mesma ordem e mesma inversão na moção Renew Group do EP em 18 de janeiro de 2022.

A Open Dialogue Foundation (ODF) parece ter desempenhado um papel significativo na resolução do Parlamento Europeu de janeiro de 2022 criticando a resposta do governo do Cazaquistão à violenta agitação doméstica durante o mesmo mês. Vale a pena notar que Mukhtar Ablyazov, que é afiliado ao ODF, expressou apoio à revolta de janeiro de 2022 e expressou suas intenções de servir como presidente interino do Cazaquistão. A ODF tem feito lobby abertamente por Ablyazov, e o braço polonês da ONG está listado como a organização registrante do site de Ablyazov.

De acordo com o relatório, a família do presidente da ODF é proprietária de uma empreiteira de defesa russa sancionada pela Ucrânia em Sevastopol, que supostamente garantiu contratos de várias empresas russas sancionadas pelos EUA, bem como do Ministério da Defesa da Rússia.

Além disso, a associação de Ablyazov não é uma instância única na rede do ODF; a ONG também fez lobby para Vaceslav Platon e Nail Malyutin, ambos associados ao escândalo da “lavanderia russa”, bem como outros indivíduos com supostos vínculos com o crime organizado relacionado à Rússia. Platon, como exemplo relevante, foi sancionado pelas autoridades canadenses sobre os laços com a Rússia em 1º de junho de 2023.

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O próprio Ablyazov tem uma história controversa, com várias acusações de lavagem de dinheiro em vários países. Notavelmente, ele aparece com destaque em dois processos em andamento em Nova York envolvendo a lavagem potencial de até US$ 440 milhões por meio de projetos imobiliários nos Estados Unidos. Da mesma forma, seu mandato no BTA Bank, o terceiro maior banco do Cazaquistão, foi marcado por acusações de apropriação indevida de mais de US$ 5 bilhões.

Este novo relatório de investigação sobre o envolvimento de certos deputados do Parlamento Europeu nas resoluções do Cazaquistão destaca sérios problemas potenciais de tráfico de influência e corrupção e, portanto, exige um exame minucioso. Os formuladores de políticas, jornalistas e os mecanismos de investigação interna da UE precisam abordar essas preocupações, garantindo os mais altos padrões de transparência, imparcialidade e integridade nas instituições do PE.

Na esteira do escândalo QatarGate, uma pesquisa do Eurobarômetro indica que a satisfação do público com a democracia na UE e o interesse nas próximas eleições para o PE estão atualmente em apenas 54% e 56%, respectivamente. No entanto, o conhecimento do calendário eleitoral para o próximo ano era de apenas 45 por cento. Os dados também revelam uma tendência decrescente no número de pessoas que defendem um papel mais influente no Parlamento.

Em conclusão, o Parlamento Europeu encontra-se sob intenso escrutínio. Essa pode ser uma chance de introspecção e reforma, em vez de ser vista como uma ameaça existencial. Em um mundo onde as fronteiras entre realidade e ficção se confundem, nossa dedicação coletiva à verdade, à justiça e aos princípios democráticos fundamentais deve permanecer inabalável.

Luc Rodhefer é especialista em política externa e analista financeiro freelancer. Ex-banqueiro, atualmente mora na França e cobre as relações político-econômicas entre a UE e os mercados emergentes.

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O EU Reporter publica artigos de várias fontes externas que expressam uma ampla gama de pontos de vista. As posições tomadas nestes artigos não são necessariamente as do EU Reporter.

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